Carta Pastoral

"A Feliciano o que é de Feliciano"

O Brasil inteiro tem acompanhado através dos mais variados meios de comunicação a celeuma que foi criada na Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. A referida comissão esteve sobre o controle do Partido dos Trabalhadores durante dezesseis anos. Porém como resultado de um acordo político do Governo Dilma com a base aliada que lhe dá sustentação política no Congresso Nacional, a CDHM foi entregue ao Partido Social Cristão – PSC, que por sua vez escolheu o deputado Marco Feliciano para presidi-la. O que se viu a partir de então foi um grande embate envolvendo ativistas gays e parte da imprensa querendo a todo custo impedir que esse continuasse na presidência da CDHM.
Não demorou muito para que se instaurasse um clima maniqueísta onde “quem é contra Feliciano é favor dos gays e quem é a favor dos gays é contra Feliciano”. Se por um lado Feliciano foi tratado como o pior dos criminosos, por outro lado foi visto como o herói da causa cristã. Acredito que essa não é uma questão pra ser tratada com simplismo ou com a paixão irracional própria de um campo de batalha. É preciso equilíbrio, lucidez e muito discernimento para que não caiamos na armadilha dos extremos. Por isso mesmo convido o leitor a juntos pontuarmos algumas questões que precisam ser elucidadas.

1. É preciso reafirmar o direito de expressão garantido por lei

A Carta Magna desse país nos incisos VI e VIII do Artigo 5º assegura a todo brasileiro o direito de expressão religiosa. Isso significa dizer que à luz da Bíblia Sagrada, a regra de fé e prática de todo cristão genuíno, dou-me o direito de defender os valores éticos e morais que caracterizam o cristianismo histórico. Assim, é que de forma categórica me coloco a favor da dualidade do sexo – homem e mulher – contrário ao casamento gay e à PLC 122/6. Logo, não posso aceitar o neologismo de homofóbico pelo simples fato de defender os valores que historicamente representaram os pilares da cultura ocidental.
Destaco, ainda, que não se trata apenas de uma defesa em favor dos valores morais e das crenças da religião cristã. Trata-se de uma defesa em prol da família, da constituição da natureza humana, do curso natural da ordem criacional e acima de tudo da perpetuação da vida. Por semelhante modo, é que também me posiciono contra a descriminalização do aborto, a descriminalização das drogas e de todo movimento contrário à vida.

2. É preciso diferenciar entre homossexualidade e ideologia gay
Homossexuais são pessoas que precisam de redenção, regeneração e conversão como qualquer outra criatura. Grande parte deles sofrem a culpa e o drama de se encontrarem numa prática reprovada pela própria consciência. São pessoas que precisam de ajuda, de misericórdia e de profissionais sérios no campo da psicologia, bem como de famílias e igrejas que os veja sem preconceito, mas com o mesmo amor que motivou Jesus a morrer numa cruz.
Quanto ao movimento gay é necessário que se diga algumas verdades com a clareza que requer o assunto. No geral, os ativistas gays são truculentos, intolerantes e intocáveis. A impressão que se tem é que almejam transformar o Brasil numa ditadura gay. No Brasil, todo mundo, até então, podia criticar e ser criticado. A classe política, os líderes religiosos, o Judiciário, as ONGs, as polícias Militar, Civil e Federal, os dirigentes de clubes, os sindicatos, os movimentos sociais, todos são alvos de criticas na imprensa, nos programas humorísticos e na opinião pública. Porém qualquer posicionamento que contrarie os interesses dos ativistas gays, poderá resultar em perseguição, censura ou processo.
É bom que se diga que o movimento gay se apresenta através dos seus ativistas como pessoas indefesas e discriminadas. Na prática, a história é outra. Trata-se de um movimento ideológico de grande influência no mundo todo. Conta normalmente com a simpatia de grande parte da mídia, dos políticos e empresários. Lembramos ainda que parte do dinheiro que sustenta a militância e garante a publicidade desse movimento é financiado pelo Estado. Trata-se, portanto, de dinheiro público, oriundo dos impostos da maioria dos brasileiros. Dinheiro esse que poderia ser usado para minimizar a situação vexatória em que se encontram os hospitais, escolas e presídios desse país.

3. É preciso que se reprove a postura tendenciosa de certos setores da imprensa brasileira
No geral, a imprensa no Brasil é sensacionalista, oportunista e tendenciosa. A ampla cobertura dada a esse imbróglio que envolve os trabalhos da CDHM elucida o que estou dizendo. Grande parte das matérias, reportagens e entrevistas que envolvem o assunto não gozam da lisura, honestidade e imparcialidade que norteiam o verdadeiro jornalismo.
Enquanto ativistas gays em nome de seus direitos promoviam a desordem dentro da Câmara dos Deputados para impedir que o deputado e presidente da CDHM pudesse conduzir os trabalhos, a imprensa nada dizia. Bastou o deputado dá voz de prisão a um dos arruaceiros para que ele fosse criticado. Ao mesmo tempo podia se ver o pastor Feliciano tendo sua liberdade religiosa patrulhada em seu próprio espaço de culto por ativistas gays, sem que a imprensa se posicionasse contrária.
Digo mais, a mesma imprensa que advoga que o deputado Feliciano não tem currículo ou história pra presidir a referida comissão, silencia diante do fato de que José Genuíno e João Paulo Cunha, mensaleiros condenados por crime de corrupção no Supremo, são membros da CCJ – Comissão de Constituição e Justiça. Por que a imprensa não dá cobertura a este fato? Por que ninguém questiona se os dois deputados do PT estão aptos para tal?
Vou mais além. Num país onde não há mais mobilidade nos grandes centros urbanos, onde a criminalidade continua ameaçando a vida dos seus cidadãos, onde a carga tributária é uma das mais altas do mundo, onde o tráfico e consumo de drogas dizimam as famílias, onde velhos e crianças morrem nos corredores dos hospitais por falta de atendimento, onde os índices de corrupção nos envergonham diante do mundo, por que a imprensa ocupa grande parte do seu jornalismo dando atenção para pessoas desocupadas e comprometidas em promover a desordem? Por que não construir matérias que denuncie os grandes problemas que nos afligem e cobrar das autoridades, políticas públicas que minimizem o drama dos que padecem pela ausência do Estado?
No final de tudo, a impressão que fica, é que a imprensa juntamente com os mandatários da política se utiliza de situações como essa para alienar os mais desinformados e desviar o foco dos problemas que deveriam ocupar as manchetes dos jornais, a capa das revistas semanais, o noticiário dos telejornais e a repercussão nas mídias sociais. Por uma imprensa democrática e construtiva o meu grito de protesto a tudo que temos visto, lido e ouvido.

4. É preciso que se dê a Feliciano o que é de Feliciano
Às vezes, penso que o princípio número um que rege a minha hermenêutica, vida e ministério é o princípio da soberania de Deus. Não consigo fazer uma leitura de nenhuma situação sem que a chave hermenêutica seja o governo soberano e providencial do eterno.
Assim, é que independente de Feliciano, Deus é soberano para usar Feliciano. Não tenho nenhuma dúvida de que Deus haverá de usá-lo pra contrariar os interesses daqueles que tentam legalizar uma agenda anticristã no Legislativo brasileiro. Nesse sentido, é que deveríamos como igreja orar pelo pastor, deputado e presidente da CDHM, além de aconselhá-lo e assessorá-lo em suas decisões.
Posto isso, também quero ter o direito de dizer que não sou obrigado a concordar com a teologia, hermenêutica e modelo político adotado pelo referido pastor-deputado. Lamento profundamente pelo seu histórico de posições e declarações que além de envergonhar o Evangelho, serve de pretexto aos seus inimigos. Não posso concordar com sua hermenêutica do capítulo 9 do Gênesis, que dá margem ao racismo e preconceito contra os negros africanos. Não posso concordar com declarações que de certa forma promovem mais ódio do que misericórdia à pessoa do homossexual; não posso concordar com afirmações que legitimam a violência em nome da Trindade Santa, como ele fez ao mencionar o assassinato de John Lennon.
Também não posso concordar com a práxis política do deputado Feliciano e do seu partido, o PSC. Se é pra ser coerente com suas teses, ele e o seu partido deveriam estar na oposição e não na base aliada que dá sustentação ao Governo. O deputado acusa o PT e os partidos de esquerda de promoverem juntamente com os ativistas gays a desordem que impede os trabalhos da CDHM, ao mesmo tempo em que dá apoio ao Governo do PT. A verdade é que Feliciano chegou à presidência da CDHM, fruto do apoio fisiológico e das alianças espúrias que caracterizam a política brasileira. Se é pra ser coerente, que se coloque no campo das oposições, num país cada vez mais carente de um legislativo que fiscalize as ações do governo e que garanta a sustentabilidade democrática promovendo o equilíbrio entre os três poderes da República.

5. É preciso que se evite a armadilha de novas cruzadas

O que mais me angustia nesse contexto é o circo de vaidade, a intolerância e o messianismo de alguns que se apresentam como heróis da causa cristã. A história nos ensina que nós não precisamos fazer novas cruzadas para garantir a integridade da fé evangélica. Nada é mais contraditório ao cristianismo do Cristo crucificado, do que um comportamento raivoso, odioso e prepotente. Os cristãos não precisam pegar em armas para defender os seus princípios, precisam sim, de arrependimento e retorno ao primeiro amor.
Não sou adepto do movimento de batalha espiritual. Porém defendo que um pouco de discernimento nos fará compreender que essa é de fato uma guerra espiritual. Logo, não temos que lutar contra os gays, nem tampouco usar das suas armas. Nossa luta é contra principados e potestades. O que significa que não pode ser “nem por força, nem por violência, mas pelo meu Espirito”, diz o Senhor. O apóstolo Paulo nos adverte que a nossa militância não é segundo a carne: “porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus para destruir fortalezas, anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (II Cor 10.4,5).
Se quisermos travar uma guerra usando as armas carnais, o máximo que vamos conseguir é despertar o orgulho gay no Brasil e fecharmos as portas dos nossos templos para eles, tirando-lhes a única esperança de conversão ao Evangelho.
Outro perigo é desviarmos o foco dos nossos pecados. Qualquer crente que olhar para os padrões de comportamento da cultura atual poderá sentir-se muito santo. Lembremo-nos, no entanto que Deus é o nosso modelo. A cultura brasileira será impactada pela igreja não com atos “proféticos”, protestos apologéticos ou coisa do tipo. Somente uma igreja que seja sal da terra e luz do mundo produzirá obras que quando vistas pelo mundo o fará glorificar o nosso Pai que está nos céus.
Que Deus promova o arrependimento e a conversão que precisamos para experimentarmos um avivamento. Que o Senhor nos perdoe pela arrogância da nossa autossuficiência religiosa; que o Senhor nos perdoe pelo nosso materialismo que nos faz exibir a nossa prosperidade com orgulho e justiça própria num país marcado pela desigualdade social; que Deus nos perdoe por negligenciarmos as oportunidades que nos são dadas; que o Todo Poderoso nos perdoe pela filosofia de consumo que substitui o amor generoso por missões, que o Eterno nos perdoe pelo nosso jogo de vaidades, que o Senhor nos perdoe pela nossa facilidade de mandar as pessoas para o inferno sem ao menos chorarmos a nossa própria miséria.
Enfim, que o Senhor nos perdoe por confiar em nós mesmos, por nos considerarmos justos e desprezar os outros (Lc 18.9), quando deveríamos dizer: “Ó Deus sê propício a mim, pecador!” (v.13).

No amor de Cristo,

Pr. Aurivan Marinho da Costa
Presidente da Aliança

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